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O sonho de uma galinha sem-nome - um texto sobre liberdade, resistência e independência
Published on April 7, 2022 by Rute Correia

Está cá fora mais um texto da nossa série Brasil. Desta feita, Dori Nigro oferece-nos um conto. Eis um trecho:

Bero adorava animais. Não tinha sorte com os bichos. Tentou criar periquito e, ingênuo, cansou de ver o bicho preso. Abriu a gaiola, só que o pássaro desconhecia aquela liberdade. Quando era criança pequena ganhou a primeira galinha do pai, mas, ela, coitada, acabou virando comida dum gato esfomeado, antes de chegar à casa. Bero jurou não querer mais bichos. O pai, para animá-lo, trouxe-lhe outra galinha, sem-nome. Certo dia ela cansada da vida de galinha foi-se embora, sem deixar notícia. Ainda hoje, Bero não sabe se a galinha foi levada pelas cheias ou forjando voo de independência distraiu-se, virando comida na mesa da casa vizinha.

Este é o quarto capítulo da coleção de peças criadas, a propósito do 200º aniversário da independência do Brasil, por pessoas brasileiras que vivem em Portugal. Dori Nigro foi escolhido por Luca Argel, um dos cronistas-curadores que convidámos para escrever e nomear outros autores, numa lógica de descentralização dos discursos e da ocupação dos lugares de fala.

Aproveitamos esta publicação para o lançamento de uma página especial com as biografias dos vários cronistas que já tiveram ou terão o seu espaço no Interruptor este ano.

Obrigada pelo teu apoio,
Rute Correia