Open Collective
Open Collective
Loading
Uma nova série do Interruptor
Published on October 1, 2021 by Rute Correia

Olá,

Quando fiz Erasmus, o primeiro choque cultural que senti foi não me conseguir expressar. O meu alemão era sofrível e, em Leipzig (como, de resto, na Alemanha de Leste), só os mais novos falavam inglês. Com o tempo, comecei a dominar as frases feitas do dia-a-dia, mas esse embate era uma lição em crescimento. 

Uns anos mais tarde, emigrei. Durante o tempo em que estive fora, a minha relação com o português foi-se esbatendo lentamente. No início, vivia numa cidade com uma comunidade portuguesa considerável, mas acabei por assentar arraiais fora desse raio de apoio. Durante quase dois anos, falei português apenas ocasionalmente. Um dia, ao telefone com o meu pai, entrei em pânico porque não conseguia formular frases na minha língua. A ameaça de extinção de uma parte significativa da minha identidade cultural fez-me repensar uma série de considerações pessoais sobre o português - da teimosia coletiva contra o português do Brasil à tirania da anglofonia num mundo globalizado.

Portugal tem uma unidade linguística profundamente enraizada. Para lá das nossas fronteiras, o português está na lista das dez línguas mais faladas do mundo, com cerca de 220 milhões de falantes nativos, ocupando um lugar semelhante na lista de idiomas mais usados na internet. Mas à medida que línguas como o inglês ou o português ampliam o seu domínio no espaço digital, outras vão perdendo espaço. Das cerca de 7000 línguas que existem no mundo, 40% estão em risco de desaparecer (dados da UNESCO). 

Arrancámos, hoje, no Interruptor, uma série dedicada a línguas minoritárias. Para esta abertura, escolhemos uma reportagem sobre o encontro Indígena+Digital: como jovens estão a revitalizar as suas línguas nativas na internet. O evento juntou vários ativistas de línguas indígenas, que partilharam preocupações e modos de resistência linguística na esfera digital. 

Ao longo de todo o mês de outubro e parte do de novembro, publicaremos múltiplas perspetivas sobre o assunto: reportagens, depoimentos pessoais e artigos académicos. Nesta coleção de textos, expomos teoria e prática, desvendamos grandes desafios e pequenas revoluções. 

Espero que gostes. 

Obrigada por estares desse lado,
Rute